Nossos Cronistas

25/06/2024

Dentro deste mês de Aniversário, vamos conhecer um pouco mais, sobre os nossos Cronistas Finalistas. Quem são, onde atuam e o que fazem. Todos receberam perguntas idênticas e vamos publicando um a cada dia. Finalmente, hoje vamos falar com Patrick Cruz, o campeão do Torneio de Crônica, e com ele finalizamos esta série.

SC - De onde surgiu a inspiração para escrever a crônica?

Patrick - O Vivaldino Athayde era um dos "abnegados", figuras que durante décadas participaram da vida do Inter de Lages cumprindo diferentes funções. Eram dirigentes amadores, uma categoria em extinção, e hoje até malvista no futebol profissional. Mas, em clubes pequenos, como o Inter, sem abnegados, os clubes simplesmente não existiriam. Escrevi a crônica logo depois da morte do Viva, para prestar uma homenagem a ele (ainda que eu sequer o conhecesse, a não ser de vista) e a todos os "abnegados" que foram contemporâneos dele no clube.

SC - Qual mensagem você esperava transmitir com sua crônica?

Patrick - A mensagem da alegria. Vivaldino Athayde tinha acabado de falecer, mas o Inter, a despeito de todas as dificuldades, estava vivo, graças, também, a pessoas como ele. E assim continua. O Inter chegou perto de fechar as portas no início da década passada, quando Viva faleceu. Era preciso celebrar o fato de que nosso clube ainda tinha ar nos pulmões.

SC - Qual a sua relação com o futebol catarinense?

Patrick - Sou torcedor do Inter de Lages

SC - Você já escrevia crônicas ou outros gêneros textuais de forma regular ou decidiu se aventurar no torneio?

Patrick - Sou jornalista profissional, mas não de esporte, e sim de economia. Não escrevo crônicas sobre futebol, só sobre o Inter de Lages (com exceção da Copa de 2022, quando escrevi sobre personagens da competição para o jornal Valor Econômico, onde trabalho). Sempre que me convidam para escrever sobre o clube, eu topo. Faço isso por considerar importante o Inter ocupar todos os espaços que se abrem para ele, ainda que seja com uma singela crônica sobre o clube.

SC - Porque a escolha do tema para sua crônica?

Patrick - O texto foi uma homenagem póstuma a Vivaldino Athayde, ex-dirigente do Inter de Lages, que havia acabado de falecer.

Mas também, fiquei muito feliz, de verdade. Eu nunca tinha participado de nenhum concurso do gênero. O clube acaba de completar 75 anos de fundação. A temporada seria de celebração, já que o Inter havia retornado à Série A do estadual, mas, infelizmente, acabou sendo novamente rebaixado. Assim, fiquei feliz por mim, é claro, mas, principalmente, por ver algo relacionado ao Inter de Lages em destaque em um contexto positivo depois da tristeza do rebaixamento.

Crônica: O último acorde de Viva

É quando perdemos gente como Vivaldino Benedito Athayde que, mesmo enlutados, ratificamos a alegria anômala de torcer para um time obscuro, que disputa um campeonato chinfrim em gramados indizíveis. Viva, o personagem em questão, foi um dirigente maiúsculo do Internacional de Lages. Deixou tristes os colorados ao falecer em uma sexta-feira dessas, mas o pranto vai secar – e quando secar, vamos recordar que seu legado não foi a lágrima efêmera, mas a algazarra de quem celebra o fato de existir. Entre as décadas de 1960 e 1980, Vivaldino Athayde ocupou no Inter de Lages praticamente todos os postos possíveis a um dirigente de futebol. Em 1974, presidiu o clube lageano na campanha inesquecível do vice-campeonato estadual. (O Figueirense ficou com o título, mas os torcedores do Inter de Lages tiveram para sempre sua retina benzida pelos feitos do centroavante Parraga e pela classe sublime do cerebral Gaspar, para muitos o maior craque do Internacional na história. Não nos enganemos: os troféus não contam tudo no futebol). Mas não preguemos em Viva a pecha limitante de ex-cartola. Por décadas, ele foi um afamado, requisitado, célebre (ora vejam!) saxofonista. A veia artística o fez liderar a Orquestra Guanabara, de infinitos serviços prestados à boemia lageana entre 1956 e 1990. A mesma aptidão musical que embalou notívagos e damas da noite deu também ao Inter de Lages um novo símbolo: Viva e outros dois colorados maiúsculos, Armindo Araldi e Nelson Antunes, foram os autores do hino do clube. A Orquestra Guanabara especializou-se em bailes de Carnaval a partir de 1971, mas nem só de "Ó abre alas / que eu quero passar" eram feitos os acordes de Viva. De seu sax escorriam frevos, boleros, sambas e marchas-rancho, que ora embalavam casais inebriados, ora afagavam a testa protuberante de um neocorno. O Inter de Lages está na divisão mais baixa do futebol em Santa Catarina, mas o cenário de indigência não define a estirpe colorada. Figuras como Viva tornam o Internacional um clube único: há cartolas empresários, cartolas médicos, cartolas políticos. Pois em Lages, essa Macondo de bombachas, houve um presidente saxofonista. Lamento pelos torcedores de outros times, resignados com seus dirigentes de parva objetividade. Vivaldino Athayde dedilhou nesta sexta-feira seu último acorde. Mas reneguemos a melancolia em nome do alto astral das noites embaladas pela Orquestra Guanabara. Levantemos as taças para um viva a Viva.

E, trôpegos, cantemos: "Hoy mi playa se viste de amargura Porque tu barca tiene que partir A cruzar otros mares de locura Cuida que no naufrague tu vivir"

Patrick Cruz é formado em Economia, mas atua há muito tempo como jornalista. É Lageano, mas há alguns anos, trabalha e reside em São Paulo. É editor-chefe da Revista Globo Rural. Ele aparece aqui, nesta montagem ao lado de Maurício Batalha, que o representou para receber seu certificado e seu troféu, no dia 03 de Junho na festa dos 37 anos da SC Clubes.


Notícia enviada por: SCPress em 25/06/2024