Discriminação no futebol feminino

A defasagem na participação feminina no futebol é um problema significativo que reflete a desigualdade de gênero no esporte. A pesquisa realizada pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, em parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e financiada pela Fisia, revela que apenas 8% dos profissionais no futebol masculino são mulheres, enquanto 45% das pessoas que trabalham com o futebol feminino são homens. Esta discrepância demonstra que, apesar do crescente interesse e envolvimento das mulheres no esporte, elas ainda enfrentam grandes barreiras para acessar cargos de liderança e tomada de decisão.

Jogadoras do Corinthians se manifestam contra o racismo na Libertadores Feminina, em 2021 | Foto: Staff Images Woman/ CONMEBOL
Jogadoras do Corinthians se manifestam contra o racismo na Libertadores Feminina, em 2021 | Foto: Staff Images Woman/ CONMEBOL

As mulheres no futebol masculino frequentemente ocupam funções associadas à comunicação e à saúde, ao passo que os homens têm mais liberdade para transitar entre competições masculinas e femininas. O estudo destaca a necessidade urgente de criar e incentivar espaços de liderança para mulheres em todas as esferas do futebol. "O recorte deixa nítida a urgência de um trabalho que qualifique e incentive a abertura de espaço para mulheres em cargos de liderança, sejam esses em competições masculinas ou femininas", afirma o relatório.

Além da desigualdade de gênero, as mulheres no futebol também enfrentam um problema grave de racismo, que é frequentemente menos visível e mais silenciado em comparação com o futebol masculino. Segundo o levantamento do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, o Brasil experimentou um aumento significativo no número de ocorrências de racismo nos estádios, com um crescimento de 40% em 2022. Esse problema também afeta o futebol feminino, onde as vítimas frequentemente enfrentam um cenário de maior silenciamento e receio de represálias.

Marcelo Carvalho, especialista no tema, destaca que o racismo no futebol feminino é particularmente perverso devido à menor visibilidade e ao maior silenciamento enfrentado pelas atletas. "Há um receio grande das atletas denunciarem esse racismo com medo das portas fecharem", afirma Carvalho.

Alguns casos recentes de racismo no futebol feminino ilustram a gravidade da situação:

  • 13 de novembro de 2021: Durante uma partida do Candangão Feminino entre Cresspom e Aruc, a jogadora Thamires da Conceição, conhecida como Buga, foi alvo de ataques racistas de um torcedor do time rival. O torcedor fez comentários racistas direcionados a Buga e aos demais membros da equipe.

  • 16 de novembro de 2021: Na semifinal da Libertadores Feminina entre Corinthians e Nacional do Uruguai, a atacante Adriana sofreu racismo ao ser chamada de "macaca" por uma jogadora da equipe uruguaia.

  • 4 de julho de 2022: Natasha do Nascimento, atacante do Doce Mel, relatou gritos racistas da torcida durante uma partida contra o Sport na Ilha do Retiro. A atleta afirmou ter sido chamada de "macaca" e ouvira "uh uh uh" da torcida.

  • 2 de novembro de 2022: Durante o Gre-Nal feminino, um torcedor do Internacional foi denunciado por três jogadoras do Grêmio por ter proferido uma frase racista direcionada à atacante Luany, em referência ao cabelo da jogadora.

Marcelo Carvalho ressalta que, apesar dos avanços na luta por direitos e inclusão, a impunidade em casos de racismo pode desmotivar e isolar as atletas. "É preciso montar uma rede de proteção e acolhimento para que elas não se sintam sozinhas, e sim acolhidas", afirma Carvalho.

Este panorama ressalta a necessidade de uma abordagem mais incisiva e abrangente para enfrentar tanto a desigualdade de gênero quanto o racismo no futebol. Medidas que promovam maior inclusão e proteção para as mulheres, especialmente as negras, são fundamentais para criar um ambiente mais justo e equitativo no esporte.

Vamos abordar este tema com foco no combate ao racismo, destacando a campanha "Cartão Vermelho para o Racismo". Diversos órgãos e instituições que regem o futebol catarinense se uniram nessa importante iniciativa. A campanha conta com a participação do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), da Federação Catarinense de Futebol (FCF), da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Santa Catarina (OAB SC) e sua Comissão de Igualdade Racial, dos clubes de futebol de Santa Catarina, do Rotary Clube Florianópolis, da Prefeitura de Florianópolis, do Sindicato dos Árbitros do Estado de Santa Catarina (SINAFESC) e do Sindicato dos Atletas de Futebol de Santa Catarina (SAPFSC).

Em nossos artigos, traremos dados e informações sobre essa chaga social e os esforços conjuntos para enfrentá-la.


Por: Daira Stumer