A Rotatividade de Treinadores no Futebol Brasileiro: Uma Análise sob a Perspectiva de Gestão de Recursos Humanos

A constante troca de treinadores é uma característica marcante do futebol brasileiro. Com uma média de apenas 163 dias no cargo, o Brasil ocupa o terceiro lugar mundial em rotatividade de técnicos, atrás apenas da Arábia Saudita e da Bolívia, conforme a pesquisa mais recente do CIES (2022). Esse cenário não é novidade para os apaixonados pelo esporte, mas é fundamental analisá-lo sob a ótica da gestão de recursos humanos e da eficácia organizacional.

A Rotatividade e Suas Causas

A baixa permanência de treinadores nas equipes brasileiras pode ser atribuída principalmente a dois fatores: baixo desempenho da equipe e o desgaste na relação entre a comissão técnica e os atletas. Contudo, é essencial questionar se essas mudanças são realmente a melhor solução.

Os clubes frequentemente enfrentam uma discrepância entre o investimento realizado e o desempenho esperado. Por exemplo, um elenco cujo valor de mercado é inferior ao dos principais concorrentes não pode razoavelmente esperar estar entre os melhores da competição. Ferramentas como Transfermarkt fornecem uma visão geral útil, mas a análise precisa considerar muitos outros fatores.

Outro ponto importante é a influência da imprensa, que pode gerar uma pressão indevida sobre a equipe técnica. A opinião pública muitas vezes muda drasticamente em um curto espaço de tempo, como ilustrado pelo exemplo do técnico Renato Gaúcho. Sua rápida ascensão ao status de ídolo e subsequente rejeição demonstra como a percepção pode ser volúvel e desprovida de uma análise profunda e consistente.

Exemplos Recentes em Santa Catarina

A situação dos clubes de Santa Catarina na atual temporada da Série B ilustra bem o cenário de rotatividade. O Avaí e o Brusque, ambos times do estado, já trocaram de treinadores neste ano, e essas mudanças tiveram impactos variados.

O Avaí, por exemplo, viu uma melhoria imediata após a troca de Eduardo Barroca por Gilmar Dal Pozzo. Sob o comando de Dal Pozzo, o Avaí conquistou três vitórias seguidas, um salto significativo na classificação. A vitória contra o Sport no final de semana dentro da Arena Pernambuco foi um exemplo claro da mudança positiva. A equipe mostrou uma abordagem mais agressiva e determinada, evidenciando como a troca de treinador pode trazer resultados rápidos quando bem executada.

Por outro lado, o Brusque enfrentou desafios semelhantes. A diretoria do Marreco apostou até onde foi possível em Luizinho Lopes, mas a falta de resultados levou à decisão de buscar um novo comando. A equipe, que enfrentou uma sequência difícil no início da competição, não conseguiu se recuperar, evidenciado pela derrota para o Santos na Vila Belmiro. A mudança de treinador no Brusque foi uma tentativa de reverter a situação antes que fosse tarde demais e assegurar a permanência na Série B.

Além desses exemplos, o anúncio recente da contratação de Paulo Baier, aos 49 anos, para o comando do Juventus de Jaraguá do Sul também ilustra a contínua movimentação no mercado de treinadores em Santa Catarina. O ex-jogador, que treinou o Figueirense em 2023, será responsável por guiar o Juventus na busca por melhores resultados.

A Falta de Identidade e Planejamento

Um fator crucial para entender a alta rotatividade de treinadores é a falta de uma identidade clara dentro dos clubes brasileiros. Muitas equipes não possuem um estilo de jogo definido, o que resulta em contratações que nem sempre estão alinhadas com o planejamento estratégico do clube.

Por exemplo, um clube paulista que contrata um treinador com uma filosofia de jogo defensiva pode enfrentar críticas por não adotar um estilo mais ofensivo. A falta de alinhamento entre a visão da diretoria e a abordagem do treinador pode levar a resultados abaixo do esperado e à troca constante de técnicos.

A Solução: Gestão e Planejamento Estruturado

Para mitigar a alta rotatividade, é necessário que os clubes adotem uma abordagem mais estruturada e planejada. Isso inclui a criação de um estilo de jogo consistente e a formação de uma identidade clara, tanto para a equipe principal quanto para as categorias de base.

A ideia de formar treinadores internos, como sugerido por Vasco Samouco, pode ser uma solução viável. Assim como o Barcelona formou grandes treinadores como Guardiola e Xavi, os clubes brasileiros podem se beneficiar ao investir no desenvolvimento de seus próprios profissionais, garantindo uma continuidade e alinhamento de filosofia.

Além disso, a experiência mostra que a presença de conselheiros experientes pode ser extremamente benéfica. Na Seleção Brasileira, técnicos como Carlos Alberto Parreira e Luiz Felipe Scolari contaram com conselheiros como Mario Jorge Zagallo e Antonio Lopes, que ajudaram a oferecer uma perspectiva externa valiosa sem substituir a liderança principal. Essa abordagem pode ser aplicada também no nível dos clubes, promovendo ajustes e melhorias contínuas em vez de recorrer a mudanças drásticas e frequentes.

A alta rotatividade de treinadores no futebol brasileiro é um reflexo de problemas mais profundos na gestão dos clubes. Ao adotar uma abordagem mais estratégica e alinhada, que considere a construção de uma identidade clara e a formação de uma equipe de suporte bem estruturada, os clubes podem não apenas reduzir a necessidade de mudanças frequentes de técnicos, mas também melhorar seu desempenho e estabilidade a longo prazo.


Por: Daira Stumer