A Luta Antirracista no Futebol: Avanços e Desafios
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A luta antirracista no futebol, apesar de estar longe de alcançar sua plena eficácia, tem demonstrado alguns avanços significativos ao longo dos últimos anos. Historicamente, o futebol tem sido um terreno fértil para o racismo, mas, aos poucos, a conscientização e as ações contra o preconceito racial começam a ganhar mais força e visibilidade.
Nos últimos dez anos, a percepção sobre o racismo no esporte tem mudado. A sociedade e os profissionais do futebol começam a questionar a ausência de executivos negros em posições de comando e a discriminação enfrentada pelos atletas. Diferentemente de antes, atletas que antes tentavam minimizar ou esconder casos de racismo agora se esforçam para apoiar colegas que denunciam práticas discriminatórias. Embora a resistência ao racismo ainda seja uma luta árdua, há sinais de que torcedores estão começando a reconhecer que não deve haver licença para comportamentos racistas nos estádios.
Um dos momentos mais emblemáticos dessa luta ocorreu em 2019, no Maracanã, durante uma partida do Campeonato Brasileiro. O aperto de mão entre Roger Machado e Marcão, os dois únicos treinadores negros daquela edição, foi um símbolo poderoso da luta antirracista. Roger Machado, na época técnico do Bahia, utilizou a visibilidade do evento para fazer um discurso contundente sobre o racismo estrutural. Ele questionou o mito da democracia racial no Brasil, enfatizando que a presença de poucos negros em posições de destaque não reflete uma ausência de racismo. "O maior preconceito que eu senti não foi de injúria. Eu sinto que há racismo quando vou ao restaurante e só tem eu de negro. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro", declarou Roger.
A luta de Roger Machado permanece relevante, apesar das conquistas da última década. No entanto, os retrocessos ainda são evidentes. A Copa Libertadores, por exemplo, continua sendo um cenário problemático para o racismo. Em 2023, foram registradas nove denúncias de ofensas racistas por torcedores nas fases iniciais da competição, mesmo após a Conmebol ter endurecido as punições para os clubes. Além disso, a suspensão de Bruno Tabáta, do Palmeiras, por denunciar gestos racistas da torcida do Cerro Porteño, exemplifica a persistência da prática de punir a vítima ao invés do infrator.
No cenário europeu, Vinícius Júnior, um dos principais jogadores brasileiros da atualidade, tem enfrentado perseguições racistas na Espanha. A situação é agravada pela realização
de amistosos, como o jogo da CBF em Barcelona com o lema "com racismo, não tem jogo", que acabou não impedindo novos episódios de racismo, inclusive com denúncias de abordagens discriminatórias por seguranças.
Enquanto figuras como Daniel Alves e Neymar tentaram lidar com o racismo de maneira mais descontraída no passado, como comer bananas atiradas por torcedores, hoje temos um Vinícius Júnior que encara o racismo com maior seriedade e usa sua visibilidade para lutar contra a discriminação. A transformação do futebol em um espaço mais inclusivo e justo exige não apenas a resistência individual de atletas como Vini Júnior, mas também a implementação de medidas radicais contra o racismo estrutural.
Marcelo Carvalho, do Observatório da Discriminação Racial, defende que a principal medida para combater o racismo é a punição efetiva aos autores das ofensas. "A partir disso, o atleta vai se sentir mais seguro, principalmente para denunciar os casos", avalia Carvalho. A denúncia dos próprios atletas tem sido um fenômeno relativamente recente e importante no futebol brasileiro.
A audiência pública realizada em 26 de junho de 2023, no Senado, reuniu representantes do governo federal, da CBF, de entidades da sociedade civil e ex-jogadores para discutir os frequentes casos de racismo no futebol. Ricardo Leão, da CBF, reconheceu a necessidade de coordenação com outros setores para enfrentar o problema. "A CBF, sozinha, não consegue resolver o problema do racismo. A gente precisa da cooperação com o setor público, com o setor privado e com a sociedade civil", resumiu Leão.
Para Marcelo Carvalho, a CBF está começando a desenvolver um olhar mais atento sobre o problema desde 2018, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Ele acredita que, apesar dos erros e desafios, as mudanças estão em curso. "A partir do primeiro passo, a gente consegue dar o segundo e corrigir o primeiro, incluindo cada vez mais pessoas negras em espaços de gestão e comando", afirma.
A luta antirracista no futebol não pode ser vista como uma batalha isolada, mas como um movimento contínuo que exige ação persistente e coordenação entre diversas entidades. A transformação do esporte em um espaço verdadeiramente inclusivo e igualitário é uma meta que deve ser alcançada não apenas pelos atletas e torcedores, mas por todas as partes envolvidas no universo do futebol.
Vamos abordar este tema com foco no combate ao racismo, destacando a campanha "Cartão Vermelho para o Racismo". Diversos órgãos e instituições que regem o futebol catarinense se uniram nessa importante iniciativa. A campanha conta com a participação do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), da Federação Catarinense de Futebol (FCF), da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Santa Catarina (OAB SC) e sua Comissão de Igualdade Racial, dos clubes de futebol de Santa Catarina, do Rotary Clube Florianópolis, da Prefeitura de Florianópolis, do Sindicato dos Árbitros do Estado de Santa Catarina (SINAFESC) e do Sindicato dos Atletas de Futebol de Santa Catarina (SAPFSC).
Por: Daira Stumer